quinta-feira, 24 de junho de 2010

O "canard melancolique"

Fui convidao para um jantar em um dos melhores restaurantes de SP. Claro que um convite assim não deve ser recusado.
O encontro de ex colegas de um curso de especialização que fiz na Argentina a alguns anos é, sempre, um momento de muitas gargalhadas e pelas piadas infames e pelas constatações de que trabalho, mulheres e filhos, só mudam de CGC ou CPF , no mais ...todos tem o mesmo comportamento.
Após apreciarmos o cabernet de costume, vem o cardápio.
E, me vejo diante de um cardápio todo escrito em francês – o que , como sabemos, não é um bom sinal para seu orçamento doméstico.Por outro lado o preço está em reais. Muitos reais.
Apesar de meu francês ser relativamente bom, encontro pratos que não consigo entender o nome e, faço o que qualquer mortal faria, pergunto o que significa o tal prato ao maitre. Após o olhar de desprezo...Vejo que o maitrê está se esforçando para não rir e percebo que levou mais tempo para explicar o prato e seus conteúdos doque – certamente – levarei para come-lo.

Chega o prato...e é uma pasta vagamente marinha em cima de uma torrada do tamanho aproximado de uma moeda de um real, embora custe mais de duzentas.
Tento comer em mínimas garfadas e, isso não leva a tres movimentos assim.
Penso em um belo bife a milaneza, com arroz e salada...

Um colega pergunta qual o gosto e...respondo que não deu tempo de saber.
Tenho certeza que pedi um "Boeuf à quelque chose" e o que vem é uma fatia de pato sem qualquer acompanhamento. Só. Bem que logo abaixo tinha notado que havia um prato com o nome: "Canard melancolique".

Depeois de aprecir o tal prato até senti pena do pato, pela sua solidão,mas mudo de idéia quando tento cortá-lo.

Quando vem a conta – cada um paga a sua , é claro - noto que cobraram pelo pato e pelo boeuf" que não veio. Assim, proponho as seguinte possibilidades de respostas, escolha a sua e imagine o que fiz.

a) paga assim mesmo para não dar à seus colegas a impressão de que se preocupa com coisas vulgares como dinheiro;
b) chama discretamente o maitre e indica o erro,
sorrindo para dar a entender que, "Merde, alors", estas coisas acontecem;
ou c) vira a mesa, quebra uma garrafa de vinho contra a parede e,
segurando o gargalo, grita: "Eu quero o gerente e é melhor vir sozinho!"