segunda-feira, 20 de setembro de 2010

DIPLOMACIA DE BOTEQUIM


Nossa diplomacia é uma piada; isso não é novidade. A secretária de estado dos EUA, Hillary Clinton, a definiu como “risivelmente ingênua”. Acertou na mosca.

Há anos o Itamaraty vem se transformando na casa chique da mãe Joana, levado pelos ventos populistas internacionais e pelas ditaduras decadentes do Irã, Zimbábue, Cuba, Coreia do Norte e outras. O que essas cruéis fazendas humanas têm a ver umas com as outras? Nada, mas o Brasil apoia todas. E sem a menor razão; burrice não é justificativa para nada.

A situação virou bagunça há anos. Lullla, embalado por uma admirável aprovação popular, passou a acreditar que política internacional é suscetível ao populismo e às platitudes que tanto sucesso fazem aqui. No começo os jornais europeus o elogiavam e Barack Obama idem. Relevaram algumas gafes e outras tantas bobagens históricas e geográficas, e ele conseguiu uma boa imagem no exterior, apesar dos pesares. Alguns delirantes puxa-sacos sugeriram seu nome para o Nobel da Paz e a secretaria-geral da ONU.

O doce desandou quando ele começou a se achar o máximo lá fora; sua derrocada (humilhação?) foi o recente giro pelo Oriente Médio, arrogando-se ares de estadista. Em artigo publicado no Estadão, o escritor cubano Carlos Alberto Montaner reproduziu uma definição sobre Lullla, vinda de um presidente latino-americano: "Esse homem é de uma penosa fragilidade intelectual. Continua sendo um sindicalista preso à superstição da luta de classes. Não entende nenhum assunto complexo, carece de capacidade de fixar atenção, tem lacunas culturais terríveis e por isso aceita a análise dos marxistas radicais, verdadeiros dinossauros ideológicos, que lhe falseiam a realidade como um combate entre bons e maus."

Lullla discursa no exterior sobre a paz mundial com a mesma profundidade que uma candidata a Miss Universo. Faltou mencionar O Pequeno Príncipe. Tomado pelo pensamento fixa de fazer com que o mundo todo concorde em permitir que o Irã, uma teocracia doente e assassina, leve um terço do mundo à instabilidade nuclear, resolveu falar em “acordo de paz” reunindo Síria, Irã e Israel, acreditando que reunião sindical é a mesma coisa. Seria mais fácil juntar corinthianos e palmeirenses em amor fraterno durante a decisão do título da Libertadores.

Pois bem: as platitudes lulllistas, funcionais só na roça subequatorial, foram tomadas como verdadeiro insulto nos países onde o presidente teve a infeliz ideia de expô-las. Improviso, bobagem e achismo só colam no Brasil. Lá fora a coisa costuma ser séria, e o presidente ficou espantado com a falta de aplausos. Num momento em que até os inflexíveis chineses e russos admitem que o Irã não pode ficar sem chumbo e as sanções são questão de tempo, é simplesmente insano o Brasil continuar nessa infantilidade de “é conversando que a gente se entende, cumpanhêro”. A ONU não é mesa de boteco, e nós não podemos ser “amigos de todo mundo”, como disse Lullla dia 31. Até a Autoridade Palestina, que teoricamente seria “beneficiada” como esse infantil discursinho, criticou asperamente o pândego presidente, lembrando-o que ajudaria muito se não insistisse em chamar o Irã para entrar como penetra numa festa onde nem o Brasil foi convidado. A vergonha que passamos nos metendo em Honduras não foi suficiente? E a humilhação da tomada de duas refinarias da Petrobrás na Bolívia? E os calotes do Equador e do Paraguai? E a retaliação comercial da Argentina? Rosnamos para Israel e miamos para nossos vizinhos picaretas?

A casa caiu de vez quando Lullla resolveu fazer dancinha do acasalamento para Cuba e os irmãos Castro. Presos políticos estão morrendo nos calabouços cubanos e o engraçadão diz que a culpa é das próprias vítimas. O caldo entornou e até a França, desesperada para nos vender seus caças que nenhum país quer comprar e salvar a Dassault da falência, chiou. Muitos se indignaram. Afinal, nem todos esperam nossos dinheirinho suado cair do céu. A imensa maioria sonha só na à noite e cama, que é o lugar certo e a hora certa para essa atividade.

Nós sonhamos acordados, em rede mundial. Que vexame. Se bem que assistir o Brasil cutucando o vespeiro no Oriente Médio e defendendo o “direito” cubano de torturar e assassinar é pesadelo, não sonho.